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Este blog não tem carater prescritivo.

Trata-se apenas do relato da experiência de um aborto natural.


quinta-feira, 30 de junho de 2011

Lidando com a perda

Vida e morte ... isso é um assunto cruel de difícil digestão.

A interrupção invuluntária de uma gravidez mexe muito com a cabeça da gente, os primeiros sentimentos são os de culpa: será que fiz alguma coisa errada? Não me alimentei direito? Tomei muito café? Foi porque tomei banho muito quente? Será que a água da piscina fez mal? Será que foi porque mantive uma vida sexual ativa? Culpas e mais culpas, porquês e serás ...

Uma gravidez que deixa de evoluir no primeiro trimestre é tão comum que a indiferença dos médicos justifica as estatísticas. Conversando depois com amigas, soube o quanto essa situação era comum e quantas mulheres passaram e passam por isso, e como se recuperaram rápido e depois tem seus bebês sem dificuldade.

O importante é frizar que não temos culpa, isso é um processo natural da evolução humana. Deus fez com que nossos corpos detectassem anomalias na concepção e interrompesse a gravidez com naturalidade. Não é culpa nossa, é uma fatalidade, apenas uma fatalidade.

Quando as coisas não saem como planejamos a primeira atitude é culpar alguém, e normalmente nos culpamos. Como todo o processo se passa dentro da gente é comum carregarmos a culpa pela interrupção da gravidez ou como preferimos chamar, pela morte do nosso bebê.
Embora acredite que a vida se inicie no ato da concepção, não houve sofrimento do feto porque o aborto não foi induzido, foi natural.
O medo também faz parte do processo. Medo da morte, medo de não conseguir de novo, medo de tentar de novo, medo de ter relações sexuais, medo de não poder sentir a vida crescer dentro de nós. Mesmo fazendo parte do processo não deve ser algo que nos paralise, que nos enfurne numa cama a chorar, que nos separe das pessoas que nos amam. O medo ocasiona a reclusão. Quando contamos que estamos grávidas, as pessoas se alegram com nossa alegria. Elas querem nos acompanhar, sentir o que sentimos e partilhar da nossa alegria. Quando perdemos um bebê ficamos com medo de contar para nossos amigos e entes queridos para evitar seu sofrimento. Na verdade nossa reclusão está na dificuldade de lidar com a perda, com a situação. Quando as pessoas tomam conhecimento que estamos grávidas nossa barriga vira algo público, todo mundo quer por a mão e perguntar sobre o bebê. Quando perdemos um bebê e ainda não conseguimos lidar com a situação evitamos o contato com as pessoas que nos amam para evitar a situação constrangedora da pessoa se aproximando toda animada e ficar chocada com a nova notícia. A pior sensação é a de que estão com pena da gente. Não é pena, é um compartilhar da dor. Pena é um sentimento frio de uma pessoa que não partilha seus sentimentos conosco. Nossos familiares e amigos nos amam e querem partilhar esse fardo conosco. Quando falamos sobre o assunto nos desabafamos e dividimos o peso da dor. Chorar faz parte do processo. Podemos chorar a noite toda, mas nossa alegria vem de manhã, diz o Senhor!

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