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Este blog não tem carater prescritivo.

Trata-se apenas do relato da experiência de um aborto natural.


quinta-feira, 30 de junho de 2011

A espera ...

Quando uma gravidez deixa de evoluir, há duas possibilidades: esperar que o embrião seja expelido naturalmente ou partir para a curetagem.

Lí muito sobre os dois processos e suas consequências.

A curetagem é um tipo de cirurgia. Muito comum em processos de aborto e pós-parto, tem a finalidade de remover todos os vestígios gestacionais, como placenta, coágulos, embrião, etc. O paciente dá entrada na internação de um hospital, é sedado com anestesia geral e já acorda na cama. O processo consiste na raspagem do útero com uma cureta, uma espécie de cunha.
Como todo processo cirúrgico tem seus pós e contras.
O lado bom da curetagem é o encerramento da gravidez. Você se interna, realiza a curetagem e vai pra casa no mesmo dia. A gravidez acabou, o embrião foi retirado e sua vida voltará ao normal.
O lado ruim da curetagem é que toda cirurgia envolve risco, e se não for bem feita pode deixar sequelas, como a colagem das paredes do útero, deformidades e até perfuração.
Como a perda de um bebê envolve emoções e sentimentos muitas mulheres não conseguem esperar a eliminação natural e aderem a curetagem. Muitos hospitais particulares induzem suas pacientes na realização da curetagem como procedimento padrão para o encerramento de uma gravidez, a fim de evitar infecções. Os hospitais ganham com estes procedimentos por isso é algo tão usual.

Uma gestação que se encerra no primeiro trimestre tem 95% de chances de ser expelida naturalmente.

Como funciona nosso corpo?

Primeiro, como toda pessoa é diferente da outra, as reações não são idênticas, a tolerância a dor e o nível de dor são diferentes, o nível de sangramento varia e não existe um padrão idêntico a todas as mulheres, tudo dependerá da sua natureza.

Como era minha primeira getação optei pela expulsão natural.

Hoje fez 15 dias do último ultrasom. Minha médica receitou um remédio chamado Ergotrate, usado no tratamento pós parto para evitar hemorragias. Por ser uma droga ocitócica ela provoca constrações no útero a fim de ajudar a expelir todo o conteúdo da gravidez. Não é uma droga abortiva, apenas auxilia na limpeza natural do útero.
Lí relatos de que alguns hospitais, quando diagnosticado aborto retido, induz a expulsão com Cytotec. Este medicamento é extremamente agressivo e causa hemorragia.

Minha médica disse que o fato do útero estar fechado, a incidência de infecção é mínima, desde que evitemos relações sexuais durante esse processo. Apenas em alguns raros casos o bebê entra e processo de mumificação. A hipótese de uma grangrena é descartada no promeiro trimestre da gestação, pois o feto ainda não estava formado. Caso a interrupção da gravidez ocorra após o primeiro trimestre, é recomendado a curetagem imediatamente, pois o feto começa a se decompor e pode gerar infecção.

Assim que comecei a administração do Ergotrate, comecei a ter pequenas cólicas esporádicas, peincipalmente a noite, estou tendo um corrimento meio cor de café-com-leite com alguma sujeirinha o que indica que o remédio está fazendo efeito.

Perguntei para minha médica sobre o tempo para explusão e isso pode variar muito, chegando no máximo há 2 meses da data em que o desenvolvimento cessou. No meu último ultrasom há 15 dias atrás constava um pequeno descolamento do saco gestacional, mas até o presente momento ainda não expeli.

Perguntei qual seria a sensação, se doiria muito, se seria semelhante a dor de parto e ela me disse que novamente depende de cada mulher. Algumas sentem muitas dores durante o processo de descolamento do saco gestacional (pois no primeiro trimestre ainda não tem placenta formada), algumas sentem cólicas razoáveis e outras nem sentem sua explusão. Raramente se nota um feto, porque o embrião tem em torno de 2 cm e deve ser expelido como um coágulo, bem parecido com os que surgem com a menstruação. Me preveniu que o processo de sangramento e total limpeza pode chegar a 30 dias, e será normal se vier semelhante ao fluxo menstrual. Caso o fluxo seja intenso pode ser hemorragia e deve-se procurar imediatamente um hospital.

Bom, em uma semana repetirei o ultrasom para checar a evolução da explusão.

Após o sangramento que é classificado como uma limpeza, deve esperar pelo ciclo menstrual que pode demorar e passar de 28 dias, sendo normal. Muito cuidado nessa fase porque com o útero limpo a probabilidade de uma nova gestação é grande, porém o corpo não estará preparado e fortificado para este novo embrião, sendo saudável uma tentativa após 3 ciclos menstruais.

As questões acima foram esclarecidas pela minha médica, não sendo ainda minha experiência pessoal. Nas próximas postagens irei escrever sobre o minha evolução.

Lidando com a perda

Vida e morte ... isso é um assunto cruel de difícil digestão.

A interrupção invuluntária de uma gravidez mexe muito com a cabeça da gente, os primeiros sentimentos são os de culpa: será que fiz alguma coisa errada? Não me alimentei direito? Tomei muito café? Foi porque tomei banho muito quente? Será que a água da piscina fez mal? Será que foi porque mantive uma vida sexual ativa? Culpas e mais culpas, porquês e serás ...

Uma gravidez que deixa de evoluir no primeiro trimestre é tão comum que a indiferença dos médicos justifica as estatísticas. Conversando depois com amigas, soube o quanto essa situação era comum e quantas mulheres passaram e passam por isso, e como se recuperaram rápido e depois tem seus bebês sem dificuldade.

O importante é frizar que não temos culpa, isso é um processo natural da evolução humana. Deus fez com que nossos corpos detectassem anomalias na concepção e interrompesse a gravidez com naturalidade. Não é culpa nossa, é uma fatalidade, apenas uma fatalidade.

Quando as coisas não saem como planejamos a primeira atitude é culpar alguém, e normalmente nos culpamos. Como todo o processo se passa dentro da gente é comum carregarmos a culpa pela interrupção da gravidez ou como preferimos chamar, pela morte do nosso bebê.
Embora acredite que a vida se inicie no ato da concepção, não houve sofrimento do feto porque o aborto não foi induzido, foi natural.
O medo também faz parte do processo. Medo da morte, medo de não conseguir de novo, medo de tentar de novo, medo de ter relações sexuais, medo de não poder sentir a vida crescer dentro de nós. Mesmo fazendo parte do processo não deve ser algo que nos paralise, que nos enfurne numa cama a chorar, que nos separe das pessoas que nos amam. O medo ocasiona a reclusão. Quando contamos que estamos grávidas, as pessoas se alegram com nossa alegria. Elas querem nos acompanhar, sentir o que sentimos e partilhar da nossa alegria. Quando perdemos um bebê ficamos com medo de contar para nossos amigos e entes queridos para evitar seu sofrimento. Na verdade nossa reclusão está na dificuldade de lidar com a perda, com a situação. Quando as pessoas tomam conhecimento que estamos grávidas nossa barriga vira algo público, todo mundo quer por a mão e perguntar sobre o bebê. Quando perdemos um bebê e ainda não conseguimos lidar com a situação evitamos o contato com as pessoas que nos amam para evitar a situação constrangedora da pessoa se aproximando toda animada e ficar chocada com a nova notícia. A pior sensação é a de que estão com pena da gente. Não é pena, é um compartilhar da dor. Pena é um sentimento frio de uma pessoa que não partilha seus sentimentos conosco. Nossos familiares e amigos nos amam e querem partilhar esse fardo conosco. Quando falamos sobre o assunto nos desabafamos e dividimos o peso da dor. Chorar faz parte do processo. Podemos chorar a noite toda, mas nossa alegria vem de manhã, diz o Senhor!

Planejando um bebê !!!

Casei-me aos 28 anos e aos 30 comecei a sentir falta de um bebê para agitar um pouco nosso lar.

Estávamos com uma certa estabilidade financeira e eu já tinha uma carreira estável como professora universitária. Mesmo com as atribuições do mestrado, a carreira acadêmica me permitia uma qualidade de vida e a administração do meu tempo entre casa, marido e carreira.
Após 10 anos tomando contraceptivos orais, decidi que era hora de parar e dei essa notícia de presente ao meu marido na noite de natal.
Quem toma contraceptivo sabe que o tempo de desintoxicação do organismo é uma incógnita, pode ser 1 mês, pode ser 1 ano e pode ser muito mais... a ansiedade é um fator psicológico que pode até atrapalhar. A cada ciclo era uma decepção ... sabia que uma atitude assim não era saudável. Entreguei nas mãos de Deus, e aguardei ... 4 meses depois meu ciclo atrasou ...
Na ocasião pilotava uma moto e tive medo de prejudicar a gestação, descolar a placenta ou coisa semelhante causada pelo impacto da moto ou até mesmo por uma queda. Tranquei minha moto na garagem, ela deveria ficar parada por pelo menos 9 meses ...rs...rs
Na primeira semana de atraso, comprei um exame de farmácia, o mais baratinho, e deu positivo!
No dia seguinte bem cedinho estava no hospital para fazer um exame de sangue e um ultrasom.
O Beta HCG deu positivo mas nem sinal no ultrasom. Neste instante começava meu martírio ...
Após a médica que fazia o ultrasom fazer cara de quem não estava gostando do que via, fui diagnosticada com provável gravidez ectópica.
Gravidez ectópica significa uma gravidez irregular, que não se fixou no útero, podendo estar sendo gerada nas trompas o que pode levar a um problemão. Fiquei extremamente assustada e fui orientada a repetir os exames na semana seguinte. Sete dias depois, voltei ao hospital, repeti o Beta HCG que continuava a subir e no ultrasom nada. Mais uma vez a médica me alarmou, me deixando apavorada. Nem mesmo cogitaram a hipótese da gravidez estar tão no início que não era possível visualiza-la.
Na semana seguinte repeti os exames e estava lá, perfeitinho, um saco gestacional com vesícula vitelínica e a constatação de gravidez normal de 5 semanas. Fiquei aliviada e extremamente feliz. Contamos pra todo mundo e começamos nossos planos como nomes e a decoração do quartinho.
Após 30 dias, fui a uma clínica acompanhada do meu marido para a realização de um novo ultrasom. Levamos um CD para gravar e esperávamos vê-lo crescidinho.
Por coincidência peguei a mesma médica que tinha me diagnosticado anteriormente com gravidez ectópica, só que o diagnóstico agora era de aborto retido. O exame foi terrível, a médica dizia que a situação era preocupante, que não visualizava o feto e que não tinha batimentos cardíacos. Eles falam conosco como se estivéssemos perdido as chaves do carro, com tanta indiferença e frieza. Saí aos prantos da clínica, me recusando a aceitar este disgnóstico. O laudo médico continha erros grotescos de digitação, os valores como medida do útero e do saco gestacional estavam entre 10 e 20 cm, quando o correto era 1 e 2 cm.
Tive que aguardar uma semana para repetir os exames. Foram os 7 dias mais longos da minha vida. Me agarrei aos erros do laudo e a todo tipo de esperança, como um erro de data, uma imagem deficiente do aparelho, inexperiência da médica, mas tudo em vão, minha gestação parou de evoluir na quinta semana e o feto nem chegou a ter batimentos cardíacos.
Aguardei uma semana e repetí o ultrasom, que não teve modificação

O Começo de Tudo !!!

A vida é uma experiência maravilhosa!!!


O sonho de ser mãe nos envolve desde criança, embora na adolescência seja algo terrivelmente temido e até rejeitado, na vida adulta é um presente esperado e muito bem planejado.

Comigo foi assim ...

Meu maior medo na adolescência era uma gravidez. Na minha casa faltava diálogo e os assuntos relacionados a gravidez eram terrivelmente repreendidos. A única coisa que eu ouvia de meus pais eram ameaças de ser despejada caso isso me acontecesse. Bom, cuidei-me muuito durante a adolescência, firmei-me num relacionamento, casei-me e planejei a gravidez para quando estivesse com a carreira e a vida financeira estabilizada.
Lembro-me de algumas de minhas amigas que engravidaram na adolescência e de toda sua turbulência vivida.
Aos treze presenciei o drama de uma amiga que realizou um aborto em uma clínica clandestina. Sua vida mudou muito depois disso. Lembro-me de quando ela deu a notícia ao pai da criança, um garoto com apenas 14 anos, que disse inúmeros absurdos a ela e esquivou-se da responsabilidade. Lembro-me que uns amigos mais velhos fizeram um rateio e a levaram a uma clínica clandestina onde fez a aspiração do feto.
O que mais me marcou nessa história foi o modo como ela mudou, como se a vida tirada tivesse sido a dela. Lembro-me da frieza em seu olhar e da amargura, da culpa pelo ato.
Moro em uma cidadezinha com cara de interior. Embora sendo de classe baixa e estudando em escola pública nunca me faltou informações sobre DST, AIDS, Métodos contraceptivos e os impactos físicos e psicológicos de um aborto.
Desde os 11 anos, embora ainda virgem, ostentava um preservativo na carteira. Tínhamos palestras com psicólogos na escola, assistíamos vídeos nas aulas de biologia e até contávamos com um posto de saúde que fornecia gratuitamente preservativos e anticoncepcionais aos adolescentes. Não podíamos dizer que éramos ingênuos e sim descuidados ...
O livro que impactou minha geração foi "Cristiane F. 13 anos, drogada e prostituída". Todo mundo lia o livro e assistia ao filme. A trágica experiência da personagem era um alerta sobre os perigos que rondavam os adolescentes.
Aos 16 anos quase perdí uma amiga que teve uma grave hemorragia decorrente da indução do Cytotec, um medicamento indicado para o tratamento de úlceras gástricas e duodenais, mas que é ilegalmente vendido para a prática do aborto. Ela estava grávida de 3 meses e sofreu durante 5 dias com cólicas terríveis e um abundante sangramento. Quando decidiu procurar um hospital foi extremamente mal atendida pelas enfermeiras assim que perceberam que se tratava de um aborto induzido.
Tinha uma menina no meu bairro que engravidou aos 12 anos. Foi um escândalo! Os pais do garoto, que tinha 14 anos, o fizeram assumir o bebê e ela foi morar com a família dele. Lembro-me de vê-la na varanda cuidando do bebê, enquanto ele soltava pipa na rua e brincava de carrinho de rolimã. O relacionamento deles não durou nem 6 meses e ela voltou para a casa dos seus pais com um bebê nos braços e uma grande responsabilidade de criá-lo e educá-lo sozinho.
Conhecí muitas garotas que abortaram, algumas passaram pela experiência como se nada tivesse acontecido, outras ficaram marcadas para sempre ...